Parlamentar do PSDB volta a criticar fechamento de clínica em Heliópolis

Convênio entre a Prefeitura e a ONG que administra a Unad não será renovado e a única clínica do País especializada em tratar crianças e jovens dependentes químicos  será fechada

O vereador Aurélio Nomura voltou à Tribuna da Câmara Municipal de São Paulo nesta quinta-feira (19 de março) para mostrar sua indignação com o fechamento da Unidade de Atendimento ao Dependente (Unad). Localizada em Heliópolis, uma das maiores favelas da América Latina, na região Sudeste da cidade, a única clínica do País especializada no tratamento público de crianças e adolescentes dependentes químicos será fechada porque o convênio entre a Prefeitura e a organização não-governamental que administra o espaço não será renovado.

No dia 5 de março o parlamentar já havia subido à mesma Tribuna para manifestar sua indignação com encerramento das atividades do espaço, previsto para o próximo dia 31 de março, sem que os familiares tivessem sido informados sobre o término do atendimento. “As famílias com filhos em tratamento na unidade ficaram sabendo do fechamento há duas semanas e  não receberam nenhuma informação ou orientação para onde encaminhar esses jovens ali internados”, voltou a reclamar, acrescentando que a Unad tem 80 leitos, mas atende atualmente  14 pacientes porque desde setembro de 2014 nenhuma família conseguiu internação, apesar da disponibilidade de vagas.

“O que também nos deixa perplexo é essa falta de capacidade administrativa do Executivo e essa falta de planejamento de suas ações, pois se já existia essa intenção de desativar a unidade, por que não foi feito um planejamento para onde encaminhar os internos, de maneira que pudessem continuar o tratamento?”, questionou o tucano em seu discurso, enfatizando que a atenção aos dependentes químicos exige ações complexas e não pode ser conduzida de forma afoita como está ocorrendo com a desativação dessa unidade, sem oferecer opções para continuidade do tratamento.

“É a única do País especializada no tratamento público de crianças e adolescentes dependentes químicos. E terminar com esse serviço, além de revelar incompetência é no mínimo desumano”, disse, citando, como fez em 5 de março, que no mesmo local funcionava, até fevereiro de 2013, o Serviço de Atenção Integral ao Dependente (Said), que trabalhava na recuperação física e educacional, na reinserção social e apoio psicossocial ao dependente químico, em parceria com o Hospital Samaritano e a Prefeitura.

A clínica, disse o vereador, atendia dependentes de todas as idades, entre eles 32 adolescentes dos quais 16 mulheres e 8 crianças. Contava com consultórios para atendimento odontológico e ginecológico; quadras poliesportivas, oficinas terapêuticas, salas de aula e de atividades em grupo. Promovia, portanto, um tratamento adequado que promovia não só a desintoxicação como atuava no tratamento amplo da saúde e na reintegração social e familiar. “O Said foi fechado, pois a atual administração entendia que o atendimento era caro e uma nova instituição foi contratada a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina, surgindo aí a Unad.”

Ainda de acordo com o tucano, a Secretaria Municipal da Saúde afirmou na época que a mudança traria economia de R$ 8 milhões anuais aos cofres públicos. “Porém, se no convênio anterior, de R$ 19 milhões por ano, o Samaritano mantinha cerca de 170 profissionais no hospital, a nova parceria de R$ 11 milhões passou a empregar 94 pessoas e o tempo de internação foi reduzido de dois a três meses no hospital, para 20 a 60 dias internado”, observou. “Apesar dessas diferenças no conceito de tratamento, a Unad mantinha a característica de única unidade para crianças e adolescentes dependentes químicos.”

O vereador Aurélio Nomura citou uma frase do promotor de Justiça Lélio Ferraz, da Vara da Infância e Juventude, veiculada pela imprensa, na qual ele afirma que fechar a Unad é como decretar a morte de muitos jovens. “Quando a gente encaminha alguém é porque a criança e o adolescente estão no limite da situação de vulnerabilidade de risco. Se ele não for internado ele pode morrer”, disse o tucano em referência à frase do promotor.

Em sua fala, o representante do PSDB reiterou a crítica já feita ao Programa de Braços Abertos, da Prefeitura. Segundo ele, a Prefeitura já gastou milhões de reais para bancar o programa, mas ainda não apresentou de forma clara números em relação à recuperação dos pacientes que recebem uma bolsa de R$ 480,00 por mês em troca de trabalho, comida, moradia e tratamento, caso o dependente queira, com possibilidade de inserção no mercado do trabalho.

“A Prefeitura não consolidou um Programa com ações e iniciativas articuladas, voltado aos usuários abusivos de álcool e outras drogas. Ao que parece, a atual Administração não encara a questão de forma ampla como deveria ser feito”, criticou o vereador. “A ação mais efetiva, por enquanto, será reajustar o repasse fornecido aos proprietários dos sete hotéis credenciados no programa De Braços Abertos, como forma de reparar os danos causados pelos recorrentes roubos por parte dos beneficiários.”

O parlamentar continuou o discurso enfatizando que a atenção aos dependentes químicos faz parte do Programa de Governo e está estabelecida na Meta 26. “Porém, a execução mostra a indiferença do prefeito com o tema. Dos 30 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) prometidos na campanha, apenas 25,6% da meta foi cumprida. Dos 17 CAPS AD (destinados ao tratamento de álcool e drogas), que constam da mesma Meta, apenas um foi inaugurado até agora.”

Ao encerrar seu discurso, o vereador Aurélio Nomura falou sobre a importância de a Prefeitura dar mais atenção à recuperação da vida e à reinserção social, com os quais as pessoas retomam sua dignidade. “É preciso enfrentar com ações efetivas esse problema social e de saúde pública que tende a crescer de maneira perigosa, caso não seja combatido de frente, com coragem, e com ações concretas e conjuntas entre os governos Federal, Estadual e Municipal, com o objetivo de oferecer mais oportunidades para recuperação dos dependentes químicos.”

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