Artigo: E as drogas? Quem cuida?

É indispensável atuarmos sobre as drogas lícitas, que atingem mais indivíduos e podem abrir caminho para as drogas ilícitas, especialmente para crianças e adolescentes

Luiz Alberto Chaves de Oliveira (*)
Aurélio Nomura (**)

Luiz-Alberto-a Pergunte ao seu vizinho, ao colega de trabalho, ao amigo do clube ou da Igreja, enfim a toda sua rede de relações sobre aquilo que mais os inquieta e causa preocupação. Com certeza a violência das ruas, a criminalidade e a falta de políticas sobre drogas estarão entre as cinco primeiras preocupações se não forem as campeãs das tensões do cotidiano.

Seria trágico se não soubéssemos como proceder para diminuir esta aflição, mas esta história tem solução! Não se iludam com propostas mágicas e rápidas. Será preciso trabalho, por muito tempo, para conseguirmos um equacionamento e nada poderá ser feito se não começarmos a tomar as condutas necessárias, conseguirmos os apoios de muitos, assim como articular os vários segmentos da sociedade e dos governos.

É preciso começar! E já não é sem tempo!

Muito daquilo que já foi feito precisa ser avaliado, conhecido, valorizado e aproveitado: o trabalho dos grupos de mútua ajuda, os profissionais dos CAPS, os consultórios de rua ou similares, as comunidades terapêuticas, o PROERD e outras ações na escola, as ações isoladas de Igrejas ou mesmo de cidadãos preocupados com a ausência das políticas continuadas. Tudo isto merece ser considerado na formulação das estratégias de enfrentamento da questão. Mas é preciso muito mais: ampliar a formação de quadros profissionais tanto na área da Saúde como na da Assistência e Educação, entender que as drogas legalizadas (álcool, tabaco e medicamentos) devem ser prioritárias nas atuações; usar o PSF (Programa de Saúde da Família) como ponta de lança da prevenção e do tratamento precoce; e destinar recursos suficientes de forma contínua e ampliada.

A articulação coordenada das ações de prevenção, tratamento, redução de danos, reinserção de dependentes à sociedade, prevenção de recaídas, formação de profissionais é fundamental para que exista clareza das propostas e do acompanhamento dos resultados por todos.

O maior mérito da política portuguesa de enfrentamento às drogas não foi simplesmente a descriminalização, mas a criação do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) com direção técnica adequada, recursos humanos e materiais suficientes, orçamento próprio e independência de atuação, que permitiu ser liderança dos processos.

Nos Estados Unidos, na Espanha, no Reino Unido, na Suécia – para citar alguns exemplos de sucesso – há muito que as políticas se fundamentam em ações combinadas com ênfase na prevenção e com disponibilização de variadas formas de tratamento para os dependentes e suas famílias.

Infelizmente ainda vivemos um clima de confronto de ideias que não favorece a escolha de opções realistas e condizente com a nossa cultura e com o momento que vivemos. Não serve adotarmos ações que foram adequadas a outras situações culturais e técnicas e nos preocuparmos mais com aquilo que nos parece mais evidente, mas que não embasam a necessidade da construção da política.

O crack e as cracolândias parecem ser o ponto mais gritante a ser trabalhado, mas é indispensável atuarmos muito sobre as drogas lícitas que atingem mais indivíduos e possibilitam a ampliação de entrada no mundo das drogas ilícitas, especialmente por crianças e adolescentes.

Temos ainda um caminho a percorrer, e para isso a escolha da estrada torna-se essencial e fará que possamos entender onde e como queremos chegar!

Mãos a obra!

(*) Luiz Alberto Chaves de Oliveira (dr. Laco) – é médico, especialistas em dependência química e membro da International Network on Brief Intervencions foi Alcohol Problems
(**) Aurélio Nomura é advogado, vereador de São Paulo, atualmente em seu quinto mandato
 
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