Cotia não tem condições de manter Cemucam
Entidades ambientalistas entregam manifesto à Comissão do Meio Ambiente citando razões que mostram os riscos se for concretizada a transferência do bem para aquele município como quer a prefeitura de São Paulo
Não bastassem as perdas significativas para São Paulo, sobretudo em relação ao meio ambiente e manutenção da sustentabilidade, a transferência do Parque Cemucam para o município de Cotia esbarra em problemas ainda maiores – a incapacidade técnica e financeira de a cidade vizinha manter este importante espaço de lazer e o Viveiro Harry Blossfel, o único local onde são cultivadas mudas de árvores para reposição em São Paulo, que são encaminhadas às Subprefeituras e Secretaria do Verde e do Meio Ambiente. Este fato veio à tona na audiência pública realizada na terça-feira (01/10) pela Comissão do Meio Ambiente, presidida pelo vereador Aurélio Nomura, e foi exposto por cidadãos cotianos e por representantes de entidades ambientalistas de Cotia.
O Parque Cemucam tem 1,165 milhão de metros quadrados de áreas verdes remanescentes de mata Tropical Atlântica. Desse total 665 mil metros quadrados correspondem ao Viveiro Harry Harry Blossfeld com estoque de 330 mil mudas de espécies arbóreas acondicionadas e outras 35 mil árvores adultas, incluindo palmeiras plantadas no solo do parque. Para o lazer, a área do parque dispõe de 6km de ciclovias, trilhas para caminhadas, campos e quadras esportivas, além de uma pista de mountain bike de 7,5 km de extensão. A riqueza da fauna e da flora locais é revelada pela variedade de 300 espécies arbóreas, algumas em extinção, e de 120 espécies de animais, incluindo os de grande porte como veado campeiro. O principal argumento da Prefeitura para a transferência desse patrimônio, que desde 1968 pertence a São Paulo, é a falta de recursos para a manutenção do Cemucam. Porém, a explicação não é razoável, já que o parque consome por ano apenas R$ 1,8 milhão – ou R$ 150 mil / mês e o viveiro pode produzir 180 mil mudas de árvores por ano.
“A transferência do Cemucam para Cotia é uma ideia de jerico”, criticou o vereador Gilberto Natalini (PV), integrante da Comissão do Meio Ambiente. “Ela é tão absurda e nem deveria estar ocupando o preciso tempo da Comissão”, salientou o parlamentar.
Movimento contra
Gilberto Capocchi, morador de Cotia, afirmou à Comissão que o orçamento total da Secretaria do Meio Ambiente de Cotia, em 2013, foi de R$ 2 milhões – ou seja, valor que mal cobre os gastos do Cemucam. “Para se ter uma ideia dos poucos recursos da pasta, o acesso ao Parque das Águas, o único de Cotia, está completamente abandonado e transformou-se em lixão. O templo principal da Praça Japonesa, construído com a ajuda financeira da cidade de Ino, na província de Kochi, foi destruído por um incêndio em janeiro deste ano e ainda não foi tomada qualquer medida para sua recuperação. Se tudo isso já ocorre, como a Prefeitura de Cotia pretende cuidar do Cemucam?”, indagou Capocchi. “Ao longo do tempo, o parque foi mantido com dinheiro público, portanto ele é um patrimônio da população, não é um bem da Prefeitura”, completou.
Na audiência pública, a bióloga Marília Ferraz, da Rede Nossa São Paulo, entregou ao presidente da Comissão, vereador Aurélio Nomura, o manifesto assinado por 23 entidades , liderado pela Associação dos Amigos do Parque Cemucam, que expõe sete razões contrárias à transferência do bem para o Município de Cotia. “Transferir o parque e o viveiro para Cotia e colocá-los sob a administração local é uma medida extremamente temerária. Nas últimas quatro gestões, a tônica tem sido a de dispor terrenos urbanos para empreendimentos imobiliários, causando desmatamento e comprometimento de mananciais e recursos hídricos”, afirma o documento.
Cita ainda a precariedade ou mal estado de conservação de ruas, avenidas, calçadas, praças, canteiros e demais áreas verdes do município e afirma que “apesar de reiteradas negativas da administração, são frequentes as notícias de projeto em andamento para abrir a área do parque a usos privados (como shows, rodeio e congêneres) incompatíveis com os objetivos e funções da área em questão”.
O vereador Aurélio Nomura também questiona a transferência indagando por que gastar dinheiro público com a construção de outro viveiro de plantas; qual o gasto que a Prefeitura de São Paulo passará a ter com a compra de mudas de plantas e árvores; de onde virá essa verba, e qual a garantia dada por Cotia para a manutenção do Cemucam. O parlamentar pergunta ainda se o paulistano pagará menos IPTU já que a Prefeitura de São Paulo deixará de gastar R$ 1,8 milhão economizado com a transferência do parque.
“Pelo que vimos hoje, o município de Cotia não tem condições nenhuma de manter o parque”, destacou o vereador.