Parlamentar reage à notícia de desativação da Unad, em Heliópolis
Fechamento da única clínica do País especializada no tratamento de crianças e adolescentes usuários de drogas está prevista para o próximo dia 31 de março
O vereador Aurélio Nomura subiu à Tribuna do Plenário na tarde desta quinta-feira (5 de março) para mostrar sua indignação com o fechamento da Unidade de Atendimento ao Dependente (Unad), localizada em Heliópolis, uma das maiores favelas da América Latina, na região Sudeste da cidade.
Única no País especializada no tratamento público de crianças e adolescentes dependentes químicos, a unidade não funcionará mais a partir do dia 31 de março porque convênio entre a Prefeitura e a organização não-governamental que a administra não será renovado.
De acordo com o parlamentar, as famílias cujos filhos estão em tratamento no local foram pegas de surpresa. “Ficaram sabendo do fechamento esta semana, mas nenhuma foi informada para onde e nem quando esses jovens serão encaminhados”, criticou, lembrando que a Unad possui 80 leitos e atualmente atende apenas 14 pacientes. “Desde setembro do ano passado nenhuma família conseguiu internação, apesar dessa disponibilidade de vagas. Uma das alas inclusive já foi desativada.”
Segundo o vereador do PSDB, o que o deixa estarrecido é a falta de capacidade administrativa do Executivo e a falta de planejamento de suas ações. “Se já existia essa intenção de desativar a unidade, por que não foi feito um planejamento para onde encaminhar os internos, de maneira que pudessem continuar o tratamento?”, questionou.
O tucano citou uma frase do promotor de Justiça da Vara da Infância e Juventude Lélio Ferraz, publicada na imprensa nesta quinta-feira: “Quando a gente encaminha alguém é porque a criança e o adolescente estão no limite da situação de vulnerabilidade de risco. Se ele não for internado ele pode morrer”. Para o promotor, disse o parlamentar, fechar a Unad é como decretar a morte de muitos desses jovens.
Na opinião do vereador Aurélio Nomura, a atenção aos dependentes químicos exige ações complexas e não pode ser tratada de forma afoita, como foi o caso da desativação da unidade sem oferecer opções para continuidade do tratamento. “Além de revelar incompetência é no mínimo desumano”, afirmou.
Durante sua fala, o vereador lembrou que no mesmo local onde está a Unad funcionava, até fevereiro de 2013, o Serviço de Atenção Integral ao Dependente (SAID). Segundo informou, a entidade trabalhava em parceria com o Hospital Samaritano e a Prefeitura na recuperação física e educacional e na reinserção social e apoio psicossocial ao dependente químico. “A clínica atendia dependentes de todas as idades e foi fechada pois a atual administração entendeu que o atendimento era caro.”
A nova instituição contratada foi a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina. Na época, a Secretaria Municipal da Saúde afirmou que a mudança traria economia de R$ 8 milhões anuais aos cofres públicos. “Se no convênio anterior, de R$ 19 milhões por ano, o Samaritano mantinha cerca de 170 profissionais no hospital, a nova parceria de R$ 11 milhões passou a empregar 94 pessoas e o tempo de internação foi reduzido de 2 a 3 meses no hospital para 20 a 60 dias de internação e deixou de oferecer uma recuperação integrada da saúde física e mental”, lamentou.
Programa De Braços Abertos
Ainda segundo o vereador Aurélio Nomura, a Prefeitura já gastou milhões de reais para bancar o Programa de Braços Abertos, mas não apresentou de forma clara números transparentes com relação à recuperação dos pacientes, que recebem uma bolsa de R$ 480 em troca de trabalho, comida, moradia e tratamento, caso o dependente queira, com possibilidade de serem inseridos no mercado do trabalho.
“A Prefeitura não consolidou um programa com ações e iniciativas articuladas, voltado aos usuários abusivos de álcool e outras drogas e nem iniciativas planejadas de curto, médio e longo prazos voltadas à garantia e ampliação de direitos e da contratualidade social dos usuários”, criticou. “Também ainda não apresentou um programa amplo que incorpore, articule e fortaleça as iniciativas, experiências e tecnologias sociais já existentes e comprovadamente eficazes na solução desse problema.”
Para o parlamentar, não basta divulgar números. “É preciso apresentar dados com resultados concretos que atestem efetivamente a eficácia dessa ação na redução de dependentes químicos e na diminuição do mapa dessa questão que afeta nossa população”, acredita. “Ao que parece, a Prefeitura de São Paulo não encara a questão de forma ampla como deveria ser feito.”
Ainda de acordo com o parlamentar, a ação mais efetiva, por enquanto, será reajustar o repasse fornecido aos proprietários dos sete hotéis credenciados no programa De Braços Abertos, como forma de reparar os danos causados pelos recorrentes roubos por parte dos beneficiários. O valor, que hoje é de R$ 480 mensais por hóspede, deve chegar a cerca de R$ 500.
O vereador Aurélio Nomura encerrou seu discurso citando um relatório recente da Organização das Nações Unidas (ONU) em que o Brasil aparece como uma das poucas nações no mundo onde o consumo de cocaína e crack está aumentando, o que coloca o País numa rota de alerta. “É preciso que a Prefeitura dê mais atenção à recuperação da vida, à reinserção social, com os quais as pessoas retomam sua dignidade”, enfatizou. “É preciso enfrentar com ações efetivas esse problema social e de saúde pública que tende a crescer de maneira perigosa com o objetivo de oferecer mais oportunidades para recuperação dos dependentes químicos.”
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